Com certeza você já deve ter visto ou mesmo feito um desses testes do Facebook que te “leva para o futuro” e mostra como “será” o seu rosto daqui a 20 anos ou como seria a sua aparecia se você nascesse no sexo oposto.
Esses aplicativos geralmente pedem que os usuários façam login com a conta do Facebook e solicitam autorização para acessar os álbuns de fotos, e a partir daí usam um algoritmo para fazer mudanças no rosto, como corte de cabelo, contorno do rosto e outras características faciais.
Pode parecer uma brincadeira inocente, mas de acordo com estudos de empresas especializadas em segurança da informação, esses testes estão sendo usados por empresas que desenvolvem esses aplicativos com o objetivo de captura dados pessoais e importantes de usuários das redes sociais.
Segundo apurou a reportagem do Estadão, o aplicativo russo, chamado FaceApp, coleta muitos outros dados além da foto do perfil: entre eles estão o e-mail, lista de amigos e outras fotos. Além disso, as informações sobre os sites de internet que você visita também são coletadas e analisadas pela empresa.
A política de privacidade do FaceApp, porém, não detalha de que forma esses dados são usados pela empresa e com quais outras empresas são compartilhados.
“Podemos compartilhar suas informações com empresas do mesmo grupo do FaceApp e também com empresas que nos ajudam a prestar o serviço, além de parceiros de publicidade”, afirma a FaceApp, em sua política de privacidade, sem especificar o nome das empresas com quem os dados são compartilhados.
Para Eduardo Magrani, coordenador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), o problema é que os usuários brasileiros não têm o hábito de ler os termos de uso antes de autorizar a captação de seus dados.
“Muitos acham que essas empresas coletam apenas os dados como e-mail, mas por trás disso eles têm acessos a muito mais informações que são vendidas ou compartilhadas para outras empresas”, diz.
Já fez alguns desses testes? Agora o que fazer?
Quem já participou da brincadeira e se arrependeu é possível excluir todas as permissões concedidas ao aplicativo pelas “Configurações de aplicativos” do Facebook. Mas isso não garante que a empresa já tenha armazenado suas informações em um bando de dados.
“A dificuldade é que o Brasil não tem uma lei de proteção de dados e isso nos dá pouca segurança em relação a proteção da nossa própria privacidade na internet.
Se tal legislação existisse, inibiria empresas com o único desejo de captar dados pessoais dos usuários”, diz Magrani ao afirmar que mesmo estando fora do Brasil a empresa pode ser processada no País por oferecer serviços aos brasileiros.
Outros aplicativos de teste:
Não é a primeira vez que um aplicativo semelhante circula na rede social. No ano passado, uma outra versão virou febre depois de permitir aos usuários testarem como seria sua aparência quando criança ou sorrindo.
O aumento da frequência desse tipo de jogos cria um alerta para proteção de dados pessoais. “As pessoas precisam ter consciência que a maioria desses jogos serve, principalmente, para coletar dados muito valiosos.
Em paralelo, é preciso pressionar para que essas companhias deixem seus termos de uso e privacidade mais simples e informativos. Assim, o usuário poderia controlar seus próprios dados e excluí-los se assim quiser”, diz Magrani.
Como as Empresas ganham dinheiro com Testes no Facebook:
Informações como essas são valiosas para empresas direcionarem melhor seus anúncios e obterem mais resultados. Há algumas, inclusive, que vivem de vender dados para outras.
Testes como esses que viralizam no Facebook, em geral, têm a ver com alguma ação desse tipo por parte dessas empresas – uma forma de engajar os usuários e, ao mesmo tempo, conseguir acesso a dados pessoais, que autorizam isso muitas vezes sem ler os chamados “termos de uso”.
Reunindo mais de 2 bilhões de usuários ao redor do mundo, o Facebook possibilita às empresas fazerem anúncios na plataforma oferecendo a elas um público mais segmentado e a um custo relativamente baixo, conforme explica a especialista Camila Porto.
“O Facebook te dá a possibilidade de falar com o mundo todo ou então com um público bem segmentado, como por exemplo ‘mulheres de 25 a 35 anos que estão a um quilômetro do seu estabelecimento’.”
Por meio desses dados “preciosos” sobre os usuários, o Facebook tem atraído cada vez mais empresas que patrocinam conteúdos na rede social. Segundo dados oficiais de abril do ano passado, a plataforma já soma 5 milhões de anunciantes publicitários.
O que diz o Facebook:
Em nota, o Facebook disse que existem regras para os aplicativos serem usados na plataforma, entre elas normas sobre o uso de dados dos usuários.
O Facebook, afirma ainda que tudo o que faz é “para as pessoas” e que deixa claro e público todos os dados que usa. Para uma empresa veicular um anúncio na plataforma, ele precisa ser “bom para as pessoas, proporcionar boas experiências e tem que ser seguro”.
“A privacidade das pessoas no Facebook é nossa prioridade. Qualquer aplicativo compatível com o Facebook precisa seguir nossas políticas da plataforma, que estabelecem uma série de regras para garantir que as pessoas tenham controle da experiência”, afirmou um porta-voz do Facebook em nota.